5 comportamentos dos colaboradores em home office e o que fazer para administrá-los
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Vivemos um momento em que uma grande parcela da população está trabalhando, pela primeira vez, em regime home office. Isso, aliado ao isolamento social, pode gerar comportamentos preocupantes dos colaboradores, que se refletem no desempenho improdutivo para as empresas.
Confira a seguir cinco desses comportamentos e o que fazer para administrá-los a distância.
1. Ansiedade
A ansiedade vem sendo queixa de muitos colaboradores e, não por acaso, se faz presente em cada vez mais debates a respeito da saúde mental. Considerando sua influência negativa sobre o desempenho das atividades e a concentração, torna-se um problema a ser administrado pelas empresas.
No atual momento de isolamento, algumas das causas agravantes da ansiedade são:
– Insegurança sobre como lidar com as circunstâncias que não estão sob seu controle.
– Incerteza sobre as intervenções e perspectivas do futuro.
– Pensamentos catastróficos a respeito do cenário atual.
– Informações não confiáveis ou fidedignas, fortalecendo crenças pessimistas.
– Dificuldade em estabelecer uma rotina, gerando experiências de fracasso no atingimento de metas diárias e intensificando a ansiedade.
Consequências:
A ansiedade apresenta manifestações físicas (taquicardia, sudorese, respiração superficial, insônia…) e socioemocionais (irritabilidade, preocupação excessiva…) que dificultam os relacionamentos e o desempenho das atividades. Ela afeta diretamente a concentração, a atenção e o manejo do estresse.
O que fazer:
– Identificar a gravidade dos efeitos da ansiedade para reconhecer se está ocorrendo a instalação de uma patologia. A ansiedade é uma resposta natural do organismo a agentes estressores, porém quando passa a se tornar patológica afeta a qualidade de vida do sujeito.
– A empresa precisa estar atenta ao contexto dos seus colaboradores: Há suporte social, isto é, são pessoas que moram com seus familiares ou estão sozinhas? Apresentam inteligência emocional prévia para o manejo atual de sua ansiedade ou são pessoas com tendência ao pessimismo e à impulsividade? Sustentam padrões saudáveis de vida
2. Procrastinação
A procrastinação nada mais é que adiar uma tarefa. Não é necessariamente negativa, pois demonstra flexibilidade e disposição para rever prioridades, porém pode ser danosa quando esse adiamento afeta a qualidade da tarefa desenvolvida – e grave quando a tarefa não é sequer entregue.
Causas:
– A procrastinação é multicausal, e uma de suas fontes pode ser inclusive a ansiedade. Nesse caso, além de ser um efeito da ansiedade, também a intensifica, pois leva o sujeito a experimentar a pressão de prazos cada vez mais curtos para realizar a atividade.
– Geralmente relacionada à falta de organização, de estabelecimento de metas e prioridades.
Consequências:
– Entrega atrasada e/ou de qualidade inferior das tarefas.
– Estresse com a equipe e gestores, devido aos problemas ocasionados pelo atraso.
– Acúmulo de trabalho.
– Sensação de que a produtividade poderia ter sido melhor.
– Sentimentos de inadequação.
O que fazer:
– Estabelecer uma rotina de trabalho home office com prioridades diárias e atividades hierarquizadas.
– Organizar-se considerando a sua realidade. Isso implica preparar-se para desempenhar adequadamente seus diferentes papéis sociais, que passam a coexistir no mesmo espaço: pais se tornam profissionais em seu ambiente familiar. Impor horários e regras, distribuir responsabilidades e tarefas domésticas são alguns dos manejos possíveis.
– A empresa deve ter uma comunicação mais educativa, oferecendo dicas e atuando de modo tolerante às condições de cada colaborador. É importante haver um diálogo de resolução dos problemas que se apresentam.
– Incluir entre as atividades momentos compensatórios: ter alguns minutos de descanso, tomar sol, alongar-se, exercitar a respiração profunda…
– A empresa pode facilitar o planejamento do colaborador, oferecendo tarefas alternadas para que demandem do colaborador habilidades diferentes. Pode-se, por exemplo, orientar para a realização de tarefas mais simples entre as tarefas mais complexas.
3. Atenção prejudicada
Acontece quando há vários estímulos concorrentes e a pessoa sente dificuldade em selecionar aquele para no qual deve realmente concentrar esforços e foco.
Causas:
-A própria situação atual dificulta uma atenção concentrada sobre determinada atividade, devido ao alerta constante que as notícias demandam.
– O home office em quarentena é, também, um exercício constante de desdobrar a atenção sobre diferentes responsabilidades. Em sua casa, os colaboradores que são pais não podem negligenciar os cuidados dos filhos.
– É importante que os administradores e gestores reconheçam que trazer o trabalho para o ambiente familiar implica que essas atividades sejam desenvolvidas concomitantemente às demais responsabilidades já existentes.
Consequências:
– Esgotamento físico e mental.
– Diminuição da produtividade e qualidade do que se faz.
– Geração de retrabalho.
– Começar várias coisas ao mesmo tempo, e não terminar nenhuma.
O que fazer:
– Reconhecer e selecionar aquilo que pode atender, dentro das demandas emergenciais, e aquilo que deve ser organizado antecipadamente para atender depois, com a devida atenção.
– Não sobrepor papéis. Na medida do possível, organizar-se para que os filhos tenham uma rotina paralela à rotina de trabalho dos pais.
– A atenção relaciona-se também à organização de metas e objetivos. Saber o que fazer e em qual ordem fazê-lo é essencial.
4. Sobrecarga de trabalho
Envolve o acúmulo de serviço, com jornadas longas de trabalho, sobrecarregando a condição biopsicossocial dos colaboradores.
Causas:
– Associada com os elementos anteriores.
– Carência da autogestão de tempo.
– Regime home office sob demanda, sem o estabelecimento de um horário de trabalho fixo.
– Falta de iniciativa e proatividade do colaborador para ajustar-se a essa nova realidade, aguardando orientações, regras ou cobranças de seu gestor.
Consequências:
– Noites maldormidas.
– Estresse mental.
– Ansiedade e depressão.
– Procrastinação.
O que fazer:
– Organizar-se previamente para o trabalho a ser realizado.
– Autogerir o tempo, distribuindo as responsabilidades do dia.
– Concluir as tarefas requisitadas antes do prazo, se possível.
– Estabelecer uma rotina de atividades alternadas, para não se esgotar física e psicologicamente.
5. Procurar auxílio externo
Sempre que necessário, para intervenções mais profundas, é preciso procurar auxílio externo.
Causas:
– Observação de sintomas patológicos de ansiedade.
– Falta de condições da empresa de levantar a realidade de seus colaboradores e desenvolver estratégias eficientes no manejo das dificuldades.
Consequências:
– Evolução para o agravamento das situações.
– Perda de produtividade.
– Perda do colaborador.
O que fazer:
– É preciso que a empresa dedique uma atenção mais humanizada à realidade dos colaboradores nesse momento.
– Fazer um mapeamento da realidade individual dos colaboradores é o primeiro passo para reconhecer quais suportes sociais estão disponíveis e quais carências são observáveis, no enfrentamento da atual situação ansiogênica que vivemos.
– Se um colaborador apresentar manejo frágil das emoções, a empresa pode orientá-lo a buscar auxílio psicológico profissional. Se possível, o estabelecimento de parcerias com esses profissionais da saúde mental pode ser uma medida preventiva/interventiva.
– Ainda, se a empresa tiver dificuldade na adaptação das atividades em regime home office, pode contratar assessores especializados para auxiliá-la.
IMPORTANTE:
São orientações gerais para melhor enfrentamento das adversidades:
1) cuidar da alimentação;
2) praticar atividade física;
3) manter experiências positivas de lazer e autocuidado.
São estratégias indicadas pela ciência para a produção natural de hormônios que combatem o estresse, a ansiedade e a depressão (serotonina, dopamina, ocitocina e endorfina, especialmente).
Entrevistada: Francine Porfirio, Psicóloga Especialista em Clínica